ENTREVISTA ESPECIAL : FLÁVIA OLIVEIRA
Há quase 20 anos se formava na UFF uma das principais jornalistas econômicas do país. Colunista do jornal O Globo,Flávia Oliveira noticia diariamente informações exclusivas sobre o setor de negócios no Brasil. “Os jovens escolhem ser jornalistas por admirar os profissionais que estão no topo da carreira, mas desconhecem que o caminho do sucesso é longo e exige muito trabalho, determinação, paciência. É preciso amar a profissão”, aconselha a jornalista.
Confira abaixo, na íntegra, a entrevista com Flávia Oliveira:
Tive consciência aos 16 anos da minha vocação para o jornalismo. Antes, cheguei a penser em me graduar em História e Psicologia. Provocada por uma amiga, descobri minha verdadeira vocação: sempre fui interessada em notícia, em informação; tinha grande capacidade de comunicação; devorava livros e o noticiário. Foi muita sorte ter feito, na adolescência, essa escolha acertada para toda a vida.
• Por que a opção pelo jornalismo econômico?
No ensino médio, antigo segundo grau, fiz um curso técnico de estatística na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE). A base em matemática me deu uma intimidade com números (mais que isso, com a interpretação dos números) que meus colegas não tinham. O jornalismo econômico foi um caminho natural.
• Como foi a sua graduação? Recorda-se de algo marcante?
Lembro-me muito da consistência política que a universidade me deu. Em 1988, quando entrei no Iacs, organizamos uma semana "Maio de 1968", com memórias do movimento político no Brasil e lá fora. Foi revelador. Os encontros com a filosofia, a sociologia e a antropologia, presentes no currículo da Comunicação, também foram riquíssimos. Por ter entrado no mercado de trabalho logo nos primeiros períodos de faculdade, lamento não ter dedicado mais tempo à vida acadêmica. São oportunidades que não voltam.
• O que mais lhe surpreendeu na economia durante todos esses anos que você cobre o assunto?
O controle da inflação, na segunda metade dos anos 90. Sem dúvida, a experiência brasileira com o Plano Real merece capítulos e mais capítulos na história econômica mundial. Mais recentemente, me alegra o processo de redistribuição de renda, como programas como Bolsa Família e a política de reajuste real do salário mínimo.
• Em sua opinião, quais são os grandes desafios socioeconômicos do Brasil para os próximos anos?
Manter a trajetória de crescimento econômico, com inflação sob controle e redistribuição de renda, sem dúvida, está no topo da agenda macroeconômica. Mas a transformação socioeconômica do Brasil só virá com o ainda (e sempre) esperado salto na qualidade da educação. Não se constrói uma grande nação com oito anos de escolaridade média na população.
• Como você concilia o trabalho no jornal, na TV e a maternidade?
Não sei. Se eu parar para pensar em formato, não dou conta de todas as atribuições. Com minha família, tento compensar minhas ausência com afeto e qualidade no tempo. Os fins de semana de lazer e encontro com os amigos são sagrados. Tive a sorte de ser mãe cedo, aos 26 anos. Essa feliz coincidência me fez chegar ao auge das exigências profissionais com minha filha quase criada. Até ela fazer 10-12 anos, eu tinha um só emprego. Trabalhava à tarde e passávamos as manhãs juntas. Hoje, eu trabalho em três lugares, mas ela já está com 15 anos, é mais independente. E a tecnologia nos aproxima muito. Nos falamos o tempo todo via Twitter!
• Qual dica você daria para quem está entrando na universidade agora, pensando em ser jornalista?
Aproveitar o tempo da universidade para estar muito, muito bem informado. Ter interesse pelas pessoas, pela profissão, pela história. Estar certo da escolha pela profissão. Saber que está entrando numa carreira em mutação, nem sempre bem remunerada e com alto nível de desigualdade de renda. Os jovens escolhem ser jornalistas por admirar os profissionais que estão no topo da carreira, mas desconhecem que o caminho (do sucesso) é longo e exige muito trabalho, determinação, paciência. É preciso amar a profissão. Não se faz jornalismo por dinheiro. Nossa realização não é medida em unidade monetária. O valor de informar não tem preço.
fonte:UFF
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