sábado, 18 de dezembro de 2010

Entrevista Especial : Maria Beltrão

Maria Beltrão: "Os erros me aproximaram do telespectador"


A notícia era uma de uma onde de frio que havia matado feito vítimas na Europa. A correspondente Lenise Figueiredo, falando ao vivo da Itália, encerra sua reportagem com a frase “Lenise Figueiredo, para o Sai de Baixo”. No estúdio, incrédula, estava a jornalista Maria Beltrão, que conseguiu contornar a situação e corrigir a colega: “Para o Em Cima da Hora”.

QUEM É
>> Maria Coutinho Beltrão, nasceu Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1971
O QUE FAZ
>> Começou sua carreira no canal por assinatura Globo News e passou a apresentar o telejornal Em Cima da Hora. Na emissora, também esteve à frente dos programas Almanaque e Entre Aspas. Pela TV Globo, já apresentou os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e a cerimônia de entrega do Oscar.
PROJETOS
>> Projetos Apresenta o programa Estúdio i, na Globo News

Esse jogo de cintura – mais a capacidade de rir com as suas próprias gafes cometidas na TV – fez de Maria uma das jornalistas mais carismáticas da televisão brasileira. Da bancada do Em Cima da Hora, ela foi para o programa de cultura Almanaque e, atualmente, comanda, de maneira bem informal, o Estúdio i, um “programa/telejornal’ (como Maria costuma chama-lo), que vai ao ar de segunda à sexta-feira na Globo News.
Em entrevista exclusiva para o Especial 60 anos de TV, Maria falou sobre a rotina de um jornalista que trabalha em um canal de notícias e de como a interatividade mudou a maneira de fazer se fazer televisão.
ÉPOCA – É verdade que você cursou Economia? Por que resolveu trocar para o jornalismo?
Maria Beltrão
– Acho que a comunicação sempre foi uma paixão pra mim. Sou muito tagarela e curiosa: puxo conversa com taxista, aeromoça, jornaleiro. Converso com os outros e converso sozinha. Na verdade, cursei Economia porque era ótima com números, dava aula particular de Matemática e achei que fizesse sentido tentar (confesso que achava as aulas teóricas chatíssimas…). No Jornalismo, me senti em casa.
ÉPOCA – Como você foi para a Globo News? O que te atraiu para trabalhar em um canal de notícias 24 horas por dia?
Maria –
Quando eu estava na faculdade, resolvi – com um grupo de amigas – fazer um curso de Expressão e Vídeo. A responsável pelo curso era Alice Maria, um gênio do jornalismo, que mais tarde viria a ser a diretora da Globo News. Muito antes de me apaixonar pela televisão (não me sentia bem em frente às câmeras), me apaixonei pela Alice. Quando ela me chamou para participar de um projeto, nem quis saber o que era. Fui. E estou aqui até hoje. A culpa é dela!
ÉPOCA – Como é a rotina de um apresentador de um canal como a Globo News?
Maria
- Ser apresentador do Em Cima da Hora é uma loucura. Como a gente fica muito tempo no ar (são muitos telejornais!), o improviso é uma constante. Uma hora é atentado no Iraque, outra, morte de Michael Jackson. Na meia hora, entre um jornal e outro, a gente se prepara para as entrevistas do dia, apura notícias e muda uma coisa ou outra no texto do jornal. A gente tem que estar preparado para qualquer coisa porque uma notícia importante no dia pode render cobertura de horas a fio. No fatídico 11 de setembro, fiquei 10 horas seguidas na bancada, só na base do improviso.
ÉPOCA – No Em Cima da Hora, você formou dupla com diversos apresentadores. Você tinha algum colega preferido. Com qual apresentador o público gostava de te ver?
Maria -
Tive parceiros inesquecíveis. Comecei com o Márcio Gomes (hoje, no RJ TV). Nossa química era tão grande, que muita gente pensava que a gente namorava! Trabalhar com o Eduardo Grillo era outra alegria. Agora, sem dúvida, o que mais fez sucesso com o público foi a minha dobradinha com o Sidney Rezende. E o motivo não é nada nobre: nossa parceria rendeu muitas vídeo-cassetadas e ataques de riso, que fazem sucesso no YouTube. Sou muito amiga dessa turma. Uma privilegiada.
ÉPOCA – Você se incomoda quando vê que seus erros foram parar na internet?
Maria
- Adoro! Os erros me aproximaram do telespectador, me humanizaram. O Jô Soares me disse, um dia, que meus erros foram os maiores acertos da minha carreira. Concordo!
ÉPOCA – Nesse tempo todo que você está na Globo News, o Brasil e o mundo passaram por grandes acontecimentos. Qual foi a cobertura jornalística que mais te marcou?
Maria
- Sem dúvida, o 11 de setembro.
ÉPOCA – Você, atualmente, é apresentadora. Sente falta de fazer matérias fora do estúdio?
Maria -
Fiz mais de 500 entrevistas de meia hora na rua, quando estava à frente do programa Almanaque. Sinto falta, principalmente, da troca de figurinha com os cinegrafistas. Na rua, a gente aprende muito, descobre a força de uma boa imagem e fica mais íntima da notícia. Mas adoro trabalhar no estúdio. Tudo tem seu valor.
ÉPOCA – Você já trabalhou em transmissões do Carnaval e do Oscar na TV Globo. Qual a mais complicada de se fazer?
Maria
- O Carnaval, sem dúvida! São quase dez horas de transmissão ao vivo por dia e a possibilidade de errar é enorme. Para garantir uma cobertura irretocável, eu tenho que visitar durante dois meses os barracões das Escolas de Samba e conversar com Deus e o mundo. Apresentei durante sete anos, um recorde para apresentadoras da Globo.
ÉPOCA – O Estúdio I vai ao ar ao vivo e, além das atrações previamente programadas, você aborda os principais fatos do dia e notícias de última hora. Como é a sua rotina para se preparar para o programa?
Maria
- O trabalho começa à noite, quando preparo o roteiro para a entrevista do dia seguinte. Isso já me toma umas duas horas. Acordo às sete da manhã, leio os jornais do dia e passeio pela internet. Nossa reunião de pauta começa às nove da manhã, quando decidimos os assuntos do programa e batemos o martelo sobre os temas dos comentaristas. Depois que os editores (uns craques) acabam de escrever, coloco o texto do meu jeito. O pior é que, depois de tanta preparação, tudo pode mudar (e sempre muda) na hora em que o programa/telejornal começa. É uma loucura, mas eu adoro!
ÉPOCA – O programa aborda assuntos jornalísticos de uma maneira mais informal, mais leve. Você acha que essa é uma tendência cada vez mais forte na TV brasileira?
Maria
- Para mim, é “A” tendência.
ÉPOCA – Você brinca muito com o fato de ter que usar o ponto eletrônico para receber as orientações da diretora do programa. Tem horas que ele realmente atrapalha?
Maria
- Às vezes, atrapalha, sim, mas não tem jeito. Como eu fico o tempo todo ao vivo (já que, diferentemente dos outros jornais, nunca entra uma matéria gravada), o Fabio Watson (editor-chefe do Estúdio I) e a Jackie Marum (editora-executiva) têm que me avisar se a repórter já está posicionada ou se perdemos o contato com o correspondente, enquanto estou falando. Atrapalha, mas faz parte. Televisão é equipe e o ponto é fundamental.
ÉPOCA – O programa também tem um blog no qual os telespectadores podem conversar com você em tempo real, além de enviar perguntas. De que maneira a interatividade alterou a maneira de fazer TV ?
Maria
– Alterou completamente! Hoje em dia, eu sei o que funciona e os temas que dão audiência. Adoro essa troca. Já mudei muita coisa no Estúdio I por causa de sugestões de internautas. Nesta semana, por exemplo, passei a anunciar no Estúdio i o convidado do dia seguinte, a pedido de uma internauta. Muitas pautas são sugeridas pelos internautas, principalmente as de saúde. Eles também sugerem convidados para o programa. A interatividade funciona!

(Por Danilo Casaletti)

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